RUMBA
Por volta de 1880,
após a abolição da escravidão, os negros pobres de Havana e de Matanzas criam a
rumba, em protesto contra uma sociedade que os marginaliza, embora já sejam
completamente livres. Há quem afirme que a rumba vem de um outro ritmo
denominado guaguancó , desde a época em que os colonizadores trouxeram para
Cuba a chamada música flamenga, há mais de 400 anos. O estilo espanhol
fundiu-se com os ritmos primitivos que os escravos africanos tocavam nos batás
, originando-se dessa mistura de sons o novo ritmo em suas várias versões. Os
batás eram espécies de tambores de duas bocas feitos a partir de troncos ocos
de árvores e eram considerados pelos africanos como tambores sagrados de Xangô.
Na época de sua
criação a rumba animava as festas espontâneas realizadas pelos negros nos
solares - pátios dos casarios - e originalmente eram identificadas em três
formas distintas: a colúmbia executada pelos escravos, o guaguancó sugerindo o
jogo de sedução e o yambú , de forma mais lenta evocando a postura dos idosos.
A partir dos anos
40, a rumba cubana se internacionalizou. Invadiu os salões, constantemente
aparecia nas telas dos cinemas em todo o mundo; cantores cubanos foram
convidados a se apresentar em palcos da Europa e das Américas, orquestras
cubanas tais como Lecuona Cuban Boys, Machito y sus Afro Cuban , Sonora
Matancera são presenças constantes nos palcos internacionais; surgem as
rumbeiras famosas nos palcos e nas telas, tais como Maria Antonieta Pons ,
Ninon Sevilha, Cuquita Carballo e outras mais.
Neste gênero,
algumas composições tornaram-se verdadeiros clássicos da música popular,
conseguindo romper a barreira do tempo permanecendo até hoje como temas de
filmes ou mesmo em regravações com roupagens atualizadas. Dentre elas
destacam-se:
Quiereme Mucho (G.
Roig), Cubanacan (M. Simons), Rumba Azul (A. Oréfiche), Rumbas Cubanas (E.
Grenet), El Manicero (M.Simons), etc.
CONGA
Embora pouco citada
na literatura própria, à conga teve grande importância, por suas
características curiosas, na história da música, e principalmente na dança
cubana. Este ritmo secular sempre foi mais conhecido como uma dança de las
calles de Cuba do que dos salões.
Teve sua origem nas
festas tradicionais de rua, em datas religiosas como Corpus Christi, Dia de
Reis, no tempo em que era permitida aos escravos africanos tal comemoração. Era
um sucesso ao mesmo tempo social e musical onde a alegria do povo transbordava
ao som de tambores e trompetas e todo um instrumental afro-cubano numa
coreografia que contrastava com os bailes nos salões da burguesia.
Normalmente os
grupos de participantes eram denominados comparsas que representavam a
população urbana de diversas regiões proporcionando um maravilhoso espetáculo
de pura arte popular. Mais tarde o ritmo da conga foi introduzido em outras
festas populares animados por conjuntos musicais denominados charangas.
Compositores de
música popular mais elaborada não puderam ficar ao largo de tais influências e
a partir de 1928 a conga teve sua consagração internacional quando o consagrado
maestro Eliseo Grenet introduz o ritmo em Paris. Para Vigo me Voy de Ernesto
Lecuona alcança fama mundial. Xavier Cugat com sua orquestra apresentam o novo
ritmo em musicais da MGM. A Orquestra Lecuona Cuban Boys apresenta congas no
"Follies Bergéres" - Paris.
A partir daí, o
sucesso através do cinema, do rádio e do disco provocam uma explosão comercial
e o ritmo da conga passa a sofrer uma adulteração em sua forma natural, mas
ainda hoje muita música de dança popular confunde-se com a velha e boa conga de
50 anos atrás.
Como registro de
congas inesquecíveis, listamos: Para Vigo me Voy (E.Lecuona); Uno, Dos y Três
(Rafael Ortiz); Conga de La Habana (Vasquez); Panamá (E.Lecuona); Ahi Viene La
Conga (A. Valdespi); La Conga se va (Lecuona).
MANBO
Quem inventou o
mambo? É o tipo da pergunta que até hoje persiste na história da música de
Cuba. Importante é saber que o mambo abalou o cenário musical a partir dos anos
50, enfrentando até mesmo a força predominante do swing norte-americano com
suas big bands que reinavam absolutas na época. Quanto à pergunta sobre sua
invenção, assim pode ser explicada:
No ano de 1937, o
maestro e compositor Orestes López criou uma versão sincopada do danzón , interpretada
pela famosa orquestra de Arcaño y sus Maravilhas , a qual deu o nome de mambo.
No decorrer dos anos 40, alguns músicos famosos, como Arsênio Rodriguez, Bebo
Valdez, o próprio Orestes Lopez e seu irmão Israel Cachao Lopez, Damaso Perez
Prado como pianista e arranjador da orquestra Casino de la Playa e outros mais
lograram incursionar pelo que viria mais tarde chamar-se de nuevo ritmo ou
simplesmente mambo . No entanto, quem teve a maior sorte ou mesmo habilidade
para difundir universalmente o ritmo, na hora certa e no local certo, foi o
maestro Damaso Perez Prado, que antes mesmo de viajar deixou gravado em Cuba um
disco 78 RPM contendo seu Mambo Caén e So caballo de regular aceitação junto ao
público.
Em 1947, Perez
Prado viaja ao México, organiza uma grande orquestra, na qual incorpora uma
extraordinária seção de sopros nos moldes da banda de Stan Kenton e parte para
conquistar o mercado norte-americano. Dono de estilo peculiar, Prado utilizou
por base o ritmo afro-cubano numa fusão com arranjos orquestrais extraídos do
jazz, principalmente da banda de Kenton, a quem mais tarde homenageou gravando
um dos mambos de seu de vastíssimo repertório.
Que Rico El Mambo
(Mambo Jambo) foi talvez o 1º de uma série interminável de sucessos, todos
gravados na RCA - inicialmente em 78 RPM, depois em LP. Seguiram-se Mambo nº 5,
Mambo nº 8, Silbando el Mambo , Mambo a la Kenton , Caballo Negro , etc. Em
1955, o mambo Cerezo Rosa atinge o nº 1 no Hit Parade da revista Billboard ,
posto que ocuparia durante oito semanas e só foi desbancado por Bill Haley com
o seu Rock Around the Clock . O mesmo Cerezo Rosa foi incluído como tema
musical do filme da RKO "O Alforge do Diabo". Além disso, Prado foi
agraciado com o Disco de Ouro da RCA Victor pela marca de l milhão de vendas do
referido álbum. Sobre Perez Prado (Leia mais)
Com o mambo , outro
cubano a alcançar o ápice da carreira, em sua terra natal e também no exterior,
foi Benny More, que com a orquestra de Perez Prado gravou uma série de mambos
de grande sucesso, como Locas por el mambo , Mamboletas , Babarabatiri , Que te
parece , cholito , Rabo y oreja , etc. Retornando a Havana após turnê com Perez
Prado, Benny formou uma orquestra denominada Banda Gigante, com a qual atuou
tocando mambos famosos para platéias da América Central, América do Sul e
Europa até 1962.
Na fase áurea,
várias orquestras latinas, aproveitando o sucesso que o ritmo conseguiu durante
toda uma década, incluíram mambos em seus repertórios que se tornaram sucessos,
como Donde Estabas Tu (Xavier Cugat), Mambo em Espana (Ramon Marquez), Mambo
Cubano (Lecuona C. Boys), Let's Mambo (Noro Morales), Mamborama (Tito Puente),
Mambo Mucho Mambo (Machito), Mi Mambo Conga (Eddie Palmieri), Oye Este Mambo
(Sonora Matancera) , etc... Dizia-se que "O mundo estava dançando o
mambo".
Ficava bem
transparente a influência do jazz e do swing neste tipo de composições. O mambo
apresentava características preferencialmente orquestradas obedecendo a
arranjos bem elaborados e de muita riqueza. Como dança, exigia rapidez nos
movimentos, passos bem sincronizados e uma coreografia que tornava difícil sua
prática coletiva.
Como gênero
musical, resistiu pouco tempo. Considerado um fenômeno musical que mesclava
elementos de raiz cubanos e outros tantos do jazz, o mambo representa um dos
capítulos da maior importância na história da música cubana. Resistiu até o
inicio da década de 60. Sucumbiu com o barulho frenético das guitarras. O rock
estava chegando.
CHÁ-CHÁ-CHÁ
O famoso
contra-baixista cubano Israel "Cachao" Lopez, quando o mambo entrou
em declínio, assim se manifestou: "o mambo decaiu porque os bailarinos
eram profissionais, ao passo que o chá-chá-chá era mais fácil de dançar".
Realmente há certa dificuldade para os dançarinos acompanharem ritmos
sincopados, como era o caso do mambo. Alguns compositores cubanos, observando
tal dificuldade, procuraram criar um gênero que, embora mantendo o estilo
danzón-mambo, tivesse o menor número de síncopes possíveis.
O maestro,
compositor e violinista cubano Henrique Jorrín cria então La Engañadora,
considerado pela maioria dos autores como o primeiro chá-chá-chá. De certa
forma parecia com o danzonete. Sem dúvida, o sucesso do novo ritmo devia-se à
aceitação imediata dos dançarinos nos salões de Havana. Assim sendo, vários
autores passaram a criar várias obras do gênero. El Bodeguero , de Richard
Egues, foi um dos primeiros chá-chá-chá a alcançar sucesso com várias
gravações, uma delas do famoso intérprete norte-americano Nat King Cole.
Além da orquestra
de Jorrín no México, a secular Orquesta Aragon se estabelece como uma das
principais intérpretes do novo ritmo. Com a sua difusão, outras bandas de
sucesso internacional, como Chico O'Farrill, Sonora Matancera, Perez Prado,
Tito Puente e outros grupos, passam a gravar o chá-chá-chá , que é considerado
como último produto internacional da música popular de Cuba.
GUAJIRA
Um dos gêneros mais
populares do cancioneiro cubano, a guajira é um tipo de música country
originária das províncias de Havana, Matanzas e Pinar Del Rio desde o século
XVIII. É conhecida como a música campesina de Cuba.
Popularizada em
1930 pelo guitarrista e compositor Guillermo Portabales, a quem coube
introduzi-la nos salões dos grandes centros, a guajira , no entanto, deve sua
criação ao consagrado músico cubano Jorge Ankerman. Seus temas referem-se,
quase sempre, a questões camponesas usadas de forma idílica ou cantando as
belezas da vida campestre.
Seu acompanhamento
é feito indistintamente por uma guitarra-três, claves, bongô, guiros e machete.
A guajira é também conhecida como punto cubano, porém o seu ritmo é bem mais
lento. São vários os exemplos de guajiras que obtiveram sucesso
internacionalmente. Porém, dentre todas, " Guajira Guantanamera" é
tida como um hino da música cubana. A maioria dos autores considera o trovador
de Havana, Joseíto Fernandez, como o primeiro a cantar e gravar versos do poeta
José Martí publicados em 1891 com a melodia de “La Guantanamera" . O
titulo da canção significa "mulher de Guantánamo". Seus primeiros
versos e sua melodia dolente são reconhecidos mundialmente:
Yo soy um hombre
sincero
De donde crece la
palma.....(Bis)
Y antes de morirme
quiero
Echar mis versos
del alma
Guantanamera,
guajira Guantanamera
Guantanamera,
guajira Guantanamera
Outros sucessos
como "Mi Guajira" de Armando Oréfiche, gravado pela Orq. Lecuona
Cuban Boys nos anos 50; " Como arrullo de Palmas " de Ernesto Lecuona
e gravação de Benny Moré; " Guajira " de Chick Corea c/ Willie Bobo; "
El Carretero " em regravação recente de Ibrahim Ferrer e grupo Buena Vista
Social Club; " Pa' Mantener Tradición" , gravado em 2000 com o novo
astro Jimmy Bosh e tantas outras composições provam que a guajira continua
mantendo a tradição.
NUEVA TROVA
O gênero não pode
ser considerado como um novo ritmo cubano. Na realidade, nueva trova é mais do
que isso. Trata-se de um movimento criado no início dos anos 60, que, através
de algumas experiências feitas a partir da fusão de vários elementos,
principalmente da música instrumental, objetivava a criação de um tipo de
música que marcava pela sua originalidade.
O fato de se
intitular "trova" representa em parte a história de músicos boêmios
que, tempos atrás, na cidade de Santiago de Cuba, andavam pelas ruas e pelos
bares, tendo às mãos um violão executando peças da época.
Quanto à nueva
trova, como estilo de música, tornou-se conhecida a partir de festivais
realizados na Casa de las Américas, dos quais participavam músicos ligados ao
Grupo de Experimentação Sonora. Daí, jovens artistas conseguiram realizar suas
primeiras gravações e surgiram nomes que hoje desfrutam de grande sucesso, como
Pablo Milanés, Silvio Rodriguez, Noel Nicola e outros. De um modo geral, a
nueva trova apresenta canções românticas ou crônicas de conteúdo sociais
intimamente ligados a movimentos políticos e revolucionários.
Silvio Rodriguez,
autor de uma das mais belas canções da nueva trova - “Unicórnio" , assim
se manifestou sobre o novo gênero da música cubana:
"A canção
havia sido relegada por um comercialismo e a uma pseudo-arte de consumo. Porém
a canção tinha elementos artísticos que poderiam ser usados para ser vista e
manejada como uma grande arte, como a pintura, a poesia ou a sinfonia. Esse era
o espírito do nosso trabalho, comprometido que estávamos com o processo
revolucionário" (*).
Da safra de obras
da nueva trova destacam-se composições de Pablo Milanés como "Años",
"Yolanda", "Amo esta isla" e "Canción para la Unidad
Latino-americana".
FONTE: http://www.musicacubana.com.br/ritmos.htm